quinta-feira, 2 de maio de 2013

4o, andar



4º ANDAR

- Spock! – Dizia Asuelc – Veja este painel.
- Este facho amarelo que percorre a tela, indica que os fiscais do sistema estão conferindo o estoque de mantimentos do depósito regional. – Esclarecia Spock.
- Sim, mas, isso é feito uma vez por mês, e eles já fizeram isto ontem.
- Tem certeza?
- Absoluta, e veja estes “blips”, eles vão iniciar a checagem pela terceira vez!
- E é justo no depósito que fizemos os dois últimos saques. Chame Lavicret.
- Sim.
O painel amigo que durante tanto tempo, transmitiu a alegria de burlar o sistema, agora transmitia pânico.
- Veja Lavicret. Começou de novo.
- Outra checagem?
- Sim é a quarta.
- Quarta? Eles devem estar dando falta de mercadoria.
- Mas como? Sempre deu certo.
- Dimitri! Dimitri!
- Sim.
- Diga, você conhece o nosso método de alimentação, e também o Sistema. Eles estão fazendo diversas checagens sucessivas, você tem ideia por quê?
- Só vejo uma possibilidade.
- Qual?
- Devemos ter pego, mercadorias a mais, a menos, ou trocadas das que sabotamos na lista.
- Quem está encarregada da cozinha?
- A mulher das cavernas.
- É a Nency.
- O facho amarelo outra vez. No mesmo depósito. Não há dúvida, o problema é conosco.
- O que há – Pergunta Nency.
- Você tem conferido as mercadorias que chegam, com a cópia da lista?
- Rigorosamente.
- E não tem acontecido nada de anormal?
- Não.
- Espere! Houve algo de anormal – Lembrou Nency – O abridor de latas de preso sobre a pia, tem um numerador automático que acusa, três latas as mais abertas, do que as que, entraram no estoque nos últimos três meses.
- Por que não comunicou isso antes?
- Foi idiotice minha… desculpe.
- Personagens do palco da vida, não permitiam que o Sistema nos roube a harmonia.
- Sim, a incompreensão e a impaciência, nada mais são, que irmãos em uma família, cujo sobrenome é Ignorância.
- Não vamos dar aos que nos assistem pela tela da vida o prazer de nos chamarem de loucos.
- Esta nuvem, de filosóficas advertências, quebrou a impetuosidadede gênio de Dimitri, que agora abraçava Nency e lhe dava um beijo na testa.
- Bem, já sabemos que provavelmente já tiramos estas três latas a mais. Agora temos que pensar em uma solução.
- Hoje seria o dia de fazer outra introdução na lista, para amanhã irmos retirar mais mercadorias no depósito, mas creio que isso agora está fora de cogitação.
- Devemos tomar todo nosso estoque de mantimentos e aplicar o processo de condensação, para transformá-lo em pílulas energéticas. Não sabemos quanto tempo isto tudo vai durar.
Teve início assim, o período de fome no bueiro. Todas as atividades foram paralisadas. Era necessário poupar energias, para suportarem a falta de alimento no corpo. Em alguns nem se percebia a fome, em outros ela já trazia um desespero inegável.
- Trancados, presos, com fome. Trancados, presos, com, fome. Trancados, presos, com fome – repetia Frankenstein caminhando de um lado para o outro.
- Frank! Vem cá! – Chamou Asuelc – As crianças Frank, temos que ser fortes, por causa delas!
- Já estou sendo forte por causa delas, desde que parei de me alimentar, para que elas comam.
- Você não tem pego sua porção de pílulas?
- Esquece Asuelc, desculpe, está tudo bem.
- Frank! – Diz Asuelc sorrindo – Eu também não tenho pego a minha.
- Bem, dois estômagos vazios, roncam melhor do que um.
Se havia algo surpreendendo a todos era a atitude do menino Raul. Ninguém dizia, mas todos entendiam: Durante todo o seu silêncio ele armazenara forças interiores que agora se revelavam em auxílio aos seus semelhantes. Palavras amigas de conforto e incentivo, saiam daquela boca pequena, como balas de um revolver de pequeno calibre, mas que não deixam de produzir o seu efeito.
Desde a chegada de Lavicret, algumas coisas mudaram no bueiro. Havia agora, uma reunião de cúpulas formadas por elementos eleitos. O singular nessas eleições, é que só poderiam pertencer à cúpula aqueles que fossem eleitos por unanimidade, por todos os moradores do bueiro, principalmente as crianças. As decisões tomadas por esta cúpula também só entrariam em vigor se ao serem apresentadas, fossem aprovadas, da mesma maneira unânime. Aparentemente isso parece impossível, mas se torna possível quando o interesse de todos é apenas o bem comum.
- Eu sou o culpado. Todos vão morrer por minha causa. Eu sou o culpado. Eu destruí todo o trabalho de vocês. Matei a todos. Sou pior do que o Sistema, pior do que os fiscais! – Gritava o gordo, loirinho, em cima de um caixote.
- Controle-se, ninguém aqui é o culpado pelo que estamos passando. Vamos vencer isso tudo, juntos. – Consolava Raul.
- Você não sabe o que diz. Ei! Escutem todos! Toda esta fome e tristeza, é culpa minha, minha! – Batia o menino no peito.
- Asuelc! Vamos levar este menino para repousar?
- Sim Judy, claro.
- Tire as mãos de mim! Eu não mereço amor, mereço desespero, eu quero morrer.
- Está bem, - Disse Plach, aplicando uma técnica inversa – diga o que quiser e nós vamos ouvir.
O menino se calou.
- Como eu gostaria que estes meus gritos fossem só desespero sem causa, que apenas este argumento de me deixar falar, fosse suficiente para resolver esta situação. Mas não é Plach, não é…
- Não continuamos a ouvi-lo – disse Plach.
- As três latas a mais, fui eu quem pegou no depósito.
- Você o quê? – Gritou a menina de tranças.
- Sim fui eu.
A maioria dos presentes estava cabisbaixa. Ninguém olhava, ninguém condenava, todos sabiam que alguém o tinha feito, e quem era, não importava.
- Eu fui com Morch ao depósito nos últimos três meses e todo mês eu roubava um queijo e uma lata de marmelada… Vocês ouviram? Fui eu! Eu comi tudo sozinho escondido, e agora todos estão com fome por minha causa…
A voz do garoto fazia eco do bueiro.
- Vocês não vão me criticar? Vocês não vão me bater? Pelo amor de Deus, diga alguma coisa, não façam isso comigo, digam alguma coisa…
- Você já disse tudo, filho e nós já ouvimos. Agora calma – Amava-o Plach.
- Pois se você quer me ouvir ouça: - Disse uma menininha que mais parecia estar recitando “batatinha quando nasce” – Você é gordo, é guloso, você é Judas é Silvério dos Reis, é Dalila, você é traidor!
- Não! Interviu a voz rouca de Chapeuzinho Vermelho – Ele é criança! Se estamos vivendo em uma época tão louca, em que comer queijo com marmelada, coloca em risco a vida de meia centena de pessoas, seria muita covardia, lançarmos toda a responsabilidade desta loucura sobre uma criança. Há quanto tempo as crianças do mundo todo não comem marmelada com queijo? Uma vez porque eram pobres, outra vez porque a ambição desenfreada dos homens, elevou o custo de tudo a tal preço, que queijo com marmelada só se via em sonho. E agora, computadores e Informática? ? ? Para o inferno com a informática, e viva a marmelada.
O menino Peter, se transformara num esqueleto. De todos os abatidos ele era o mais abatido. As pílulas energéticas não faziam efeito nele e a dias ele já não ficava de pé. Ao ouvir as palavras da velha Chapeuzinho, num esforço sobre-humano, como um bêbado, encostado no batente da porta, começou a bater palmas. Fracas palmas, que mal se podiam ouvir pala falta de força e energia. Um e outro, aqui e ali o seguiram e temos agora, um grande aplauso, que cresce, cresce e se transforma em euforia, como se batendo palmas todos estivessem esbofeteando a vida.

3o.andar


3º ANDAR

- A luz amarela se apagou! Finalmente! – Gritou Dimitri ao consultar o painel aquela manhã.

- Cuidado, provavelmente é um truque, para que reiniciando nossas atividades sejamos descobertos – Prevenia Lavicret que acordava num sobressalto, pois havia dormido em seu plantão, sentado diante do painel.

- Não. Não é um truque – Dizia a menina de tranças entrando na sala de controles – Veja isto.
- O que é?
- Uma mensagem do Augusto. O garoto do queijo com marmelada:

 “Amigos. Não se preocupem, estou levando de volta as latas vazias ao depósito. Se me acompanharem fingirei que sou surdo e mudo. Eles os deixarão em paz ao saberem onde está a mercadoria. Pensei em tudo. Entrarei no depósito, pela porta, agarrando na empilhadeira, assim se me pegarem pensarão que foi assim que entrei das outras vezes e não saberão dos bueiros. Amassei as latas de marmelada para que pensem que as abri sem um instrumento próprio. Amo vocês. Adeus. Augusto”.

- Não, ele não pensou em tudo – disse Spock.

- O que faltou? Perguntou Dimitri.
- O principal – completava Lavicret.
- O lago – Disse a menina de tranças num estalo – Ele esqueceu do lago!
- Ele teve a intenção de nos ajudar e vai terminar por nos destruir – Entendeu Dimitri – Os fiscais não vão simplesmente matá-lo. Vão tomar suas impressões digitais, sua estatura, até descobrirem quem ele é…
- E ao descobrirem que ele é um dos meninos do internato, vão chegar ao lago - Concluiu Spock, deixando-se cair numa cadeira.
- Posso dar uma opinião? – Perguntou a menina.
- Por favor.
- Entre chegar ao lago e descobrir o lixo e os bueiros há um grande passo. Enquanto eles não dão este passo, se é que vão conseguir, nós temos tempo. Mesmo que o Augusto esteja sendo torturado para falar, temos que aproveitar o tempo, enquanto ele não fala.
- Genial!
- É isso aí!
- Vamos usar este tempo da melhor maneira possível. Hoje é o dia da emissão das listas na Central de Sistema. Vamos fazer o maior saque de mantimentos, da história deste bueiro. – Propôs Spock - Vocês concordam?
- Estou de acordo. Já que vamos arriscar, vamos criar um esquema para obter mercadorias por um ano.
- Se sobrevivermos desta, nossa lavoura – estufa já estará firme para nos manter razoavelmente.
- Vamos expor isto aos demais.
- Já fizemos isto.
- Como?
- Para ganharmos tempo, eu acionei os auto falantes e todos estão ouvindo nossa conversa – Disse solene a menina – Só nos resta agora, perguntar em voz alta: “Alguém discorda deste plano”?
- Não! – Se ouvia por todo lado.
- Uma votação, democrática e tecnológica.
- Mãos à obra então.
- Antes porém…
- O que?
- Lembre-se: - Disse Spock – Sempre que dermos um passo em direção à técnica e à ciência, temos que dar outro, rumo à meditação e à autoanálise, ou em breve, nossa sociedade será como a outra. Disto que aconteceu aqui e agora, tem que sair um provérbio para ser registrado no nosso “Arquivo de sabedoria”.
- Eu proponho: “Quando não encontrar sabedoria entre os adultos, procure a resposta entre as crianças” – Disse Dimitri.
- Bom, muito bom…
- Coloque este também – disse a menina – “Quando a realidade for muito cruel, lembre-se que nem tudo na vida é marmelada”.
- Sem comentários.
- Vamos à prática: Saquearemos doze depósitos regionais retirando de cada um a despesa para um mês. Teremos assim, mantimentos para um ano.
- Somos em cinquenta. No momento do saque podemos enviar, quatro para cada depósito e dois ficam nos controles eletrônicos.
- Perfeito.
- Não devemos nos preocupar em trazer toda esta mercadoria para cá na noite do saque, pois é muito peso para cada grupo de quatro. Simplesmente tiraremos dos depósitos, deixando do bueiro mais próximo. Iremos trazendo com o tempo.
- Sueli?                  (Este é o nome da menina de Tranças)
- Diga.
- Escolha os doze depósitos. Com exceção do da marmelada é claro.
- É pra já.
- Estes?
- Hum… hum… e que Deus nos ajude.
- Ele vai ajudar.
- Deve fazer interferência, para os doze ao mesmo tempo. O máximo que já fizemos foi em dois depósitos.
- Não temos tempo de elaborar listas de mantimentos agora. Pegue na memória do computador os doze últimos meses e distribua, para cada depósito.
- As trinta crianças, som estão conosco a nove meses.
Entendo, teremos três meses de despesa para apenas, mas é o melhor que podemos fazer a esta altura.
- Deus é bom.
- Quanto tempo falta?
- É agora!
- 12, 11, 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1, conseguimos!
- Iupi!
- Iabadabadu!
- Olimpia!
- Quem tem medo do lobo mau, lobo mau, lobo mau?
- Eureka!
- Tarzan!
- Aiô Silver!
- Independência ou morte!
- Atenção, atenção! Vamos todos para o saguão para organizarmos os grupos de saqueadores. De quatro em quatro.
- Já estamos todos prontos professor!
- Eu já devia saber!
- Bem, daqui a oito horas já podemos ir ao saque. O primeiro que colocar a mão em comida, terá como prêmio, a alegria de trazer a primeira refeição de Peter.
Aplausos.

2o. andar



2º ANDAR

A comida é saqueada. A fome é saciada, mas Augusto, torturado, que devia ser mudo, falou.

A mão mecânica, de uma escavadeira, faz um buraco enorme no asfalto, deixando horrorizados os moradores do bueiro que só tem uma alternativa:Correr. 

Um enxame de fiscais, munidos de bumerangues eletrônicos, infesta os corredores subterrâneos. 

A primeira a ser decapitada é a Velha Chapeuzinho que já não tem tanto fôlego para fugir do lobo mau.

- Spock! Que mal cheiro horrível é este? - Pergunta sufocada Asuelc, enquanto corre puxando as duas crianças.

- Água estagnada.
- O que?
- Água estagnada, pobre, os malditos abriram uma antiga comporta para nos afogar em lodo.
- Por que você está com a última página? Não seria mais seguro escondê-la?
- É instinto. Minha mãe pediu que eu a protegesse “com minha própria vida”.

As crianças corriam desesperadamente, tropeçando e caindo. 

Eles não queriam deixar pistas, mas era impossível. Tinham que largar pelo caminho, os vestidões, brancas, cetros e bengalas, botas e pernas mecânicas, corcundas e barbas, todas as características de seus personagens que agora atrapalhavam a fuga.

Estavam todos agora, entre o lodo e os fiscais. Preferiam o lodo. Se atolaram nele. Submersos na fedentina pegajosa, Spock desesperado, perde a página.

- A página! Procurem a página!

Uma mão melada se levanta do lodo lá adiante segurando a última página da bíblia como uma bandeira. A mulher das cavernas pega a página, mas a mão melada, numa última expressão de agonia é levada pelo lodo que inunda a galeria.

- Quem era?
- Dimitri. Que sonhava ser batizado num rio de águas cristalinas…
- Ele foi. A forma de morrer não importa. Importa como ele viveu.

Um bando de múmia fétidas, era o que restava dos “Limpos de consciência”.
Pedras na parede começam a se mover. Todos olham arregalados, já sem forças para correr. As paredes pretas de bolinhas amarelas, estão melecadas até o teto.

Um caixote azul afundando no lodo, trás a todos a lembrança do casamento de Spock. O capuz de Chapeuzinho, o lenço de Anastácia, uma cabeça com tranças, tudo boia por um instante, depois afunda se despedindo. As pedras na parede caem. As crianças se abraçam apavoradas e fecham os olhos. Raul dá um grito!

- É professor!
- Por aqui, rápido!

Entrando pela passagem aberta por Lavicret, o grupo dizimado, respira aliviado…

- Já vasculhamos tudo – Diz um dos fiscais do Sistema.
- Sim devem estar todos mortos, afogados…
- Este “devem” não me satisfaz – diz outro – quero ver cadáveres…
- Mas nós não sabemos quantos viviam aqui…
- É, eu queria que o menino Augusto me desse a quantia, mas o infeliz não aguentou a tortura.
- Como foi que vocês o fizeram falar?
- Melecamos os genitais dele com queijo derretido e marmelada e o soltamos dentro de um cubículo, cheio de ratazanas famintas. Eles me fizeram de bobo certa noite no lago.
- Nós já viemos a este corredor?
- Sei lá. Isto aqui é um labirinto. Acho que já.
- Não, não viemos. Vejam aquilo.
- Uma porta vermelha! E nós não passamos por aqui.

Arremessando fortes pontapés eles arrombam a porta. Num canto da sala de tamanho médio estão imóveis, os sujos, limpos de consciência com expressão de pavor. Todos estão em círculo, tentando proteger o seu autor ao centro. E inútil. Os bumerangues eletrônicos são lançados e cabeças rolam a granel. Aquela cabeça com uma lágrima de lantejoula e do palhaço Alegria.

Só resta o autor, de pé no fundo, olhando para os fiscais com um ar de superioridade que os irrita. E lançado último bumerangue. Atrás da cabeça do autor, há um painel escondido, coberto com um pano. A decapitar o professor, eles acertam o painel, provocando uma grande explosão.

O mundo exterior é sacudido. Enquanto máquinas de refrigerantes, despejam urina no copo dos fregueses, vasos sanitários jorram com champanhe francesa. O elevador da Central do Sistema, emperrou no quarto andar, enquanto todo o edifício à sua volta subia e descia descontrolado.

Tudo isso aconteceu, até que o Sistema de programação progressiva, progrediu, programou, analisou e não achando lógica em tudo isto, explodiu… Poc!

1o. andar



1º ANDAR

Poc?

Poc, poc, spocpoc! Pulam os milhos na panela. É dezembro, todos comem pipoca.

- Que personagem é este?
- Eu sou o poeta.
- Oba!
- Venham todos, sentem-se, ouçamos poesia…
- Tenho a lhes propor, uma parábola.
- Uma parábola?

- Sim. Era uma vez, um povo, que em plena guerra, na acreditava que tinha um inimigo. Esse inimigo, aproveitando-se que não acreditavam em sua existência, assim como alguém invisível…

Dava tapas e pontapés
e o povo dizia: É o acaso.

Destruía lares, acabavam com famílias.
E o povo dizia: É o destino.

Insuflava nas mentes
falsos conceitos de liberdade
para desfrutar dos quais
não poderiam estar
presos, a compromissos
de paternidade.

E quando as rua se fartavam
de menores abandonados
o povo dizia: É o sistema.

Sufocava todo sentimento puro
e o povo dizia: É a poluição.

Conduzia os corações
à ambição desenfreada
que levava as massas ao caos
os simples a loucura
vítimas a sepultura
e o povo dizia: É o capitalismo.

E quando em decorrência
desse chamado capitalismo
faltava-lhes o pão
o povo dizia: É a inflação.

Escravizava-os com vícios irrecuperáveis
que os tornava
desprezíveis e desgraçados
e o povo dizia: É o Stress, é a depressão.

Aniquilava toda a ordem
criando rebelião
entre classes
sociais, raciais e profissionais
promovia o desrespeito
confundia os dirigentes
anarquizava a paz
e o povo dizia: E a democracia

Inspirava-os de maneira maligna
a utilizar descobertas científicas
com fim destrutivos e exterminados
e o povo dizia: É a tecnologia.


Desconfiavam por vezes
que por trás de tanto investimento sombrio
havia uma força estranha
mas, o povo tolo dizia:
são as multinacionais…

Digo: Era uma vez
porque aquele povo cego
confiando no próprio ego
e não lutando
contra
aquele inimigo vil
se auto – destruiu…

O nome daquele povo
Era humanidade
O do inimigo
Satanás.

Aplausos eufóricos, esbofetearam a vida.

Sim, os meus personagens estão vivos. O que os fiscais do Sistema destruíram atrás da porta vermelha foram manequins, dispostos artisticamente em um cenário de teatro. Os meus personagens não morrem nunca. Eles ainda tem muito amor para dar.

Térreo


TÉRREO

É noite. Com “flach” na mão, suado e ofegante, incrédulo e descrente, você Chega à calçada. 

Não acredita, na menor possibilidade que a folha de caderno que você escreveu a palavra paz, ainda esteja flutuando no espaço.

Olha para o alto, considerando-se tolo, por ter investido tempo nesta tarefa absurda…
Mas… Lá vem ela! É ela!

Enquanto você corria escada abaixo, rajadas sucessivas de vento, sopraram a folha para o alto!

Quando você parou no 12º andar para descansar, ela também parou. 

Caiu sobre o parapeito do 5º andar e ficou ali, enquanto você descia o 8º, o 7º e o 6º. Voou… mas ficou presa nas vidraças do quarto andar, de onde agora ela se solta, para que você a fotografe…


FIM



Viu, homem?
Manter a paz, neste ponto
do tempo e do espaço em que vivemos
não é impossível.
Só é necessário que você
TENTE.